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Roubo em Operadores Logísticos

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Particularmente, todo brasileiro entende um pouco de segurança e futebol, porém estamos vivendo em uma sociedade cada vez mais violenta, onde a criminalidade esta presente em todas esferas e classes e é recorrente a indagação sobre o surguimento desse fenômeno.

Desse modo, o que se busca nessa reflexão é o entendimento da gênese dessa realidade e o modo como se configura a ação desse grupos.

O recorte priorizado, chama a atenção pela reiterada investida desses grupos em roubos à armazéns logísticos. Por ser um tipo de crime ainda pouco estudado, considerou-se interessante e relevante, desvendar suas possíveis causas e consequências na sociedade atual, bem como o modus operandi de quem se dedica à essas ações.

Nesse sentido, num primeiro momento, os excertos de noticiários disponibilizados via internet é uma fonte documental que nos propicia dados acerca de tais sinistros, e permite descrever e compreender de maneira breve e suscinta o planejamento desses grupos, evidenciando quais são suas preocupações na elaboração de estratégias de ação.

Num segundo momento,  buscamos a gênese desse fenômeno social com base no entendimento de que os desafios à que estamos sujeitos não surgem sem razões que as desencadeiam e fortalecem.

Por fim, com base na experiência cotidiana e na discussão frequente sobre planejamento estratégico de gestão de riscos, apontamos saídas entre tantas possíveis, para minimizar ou inibir ações dessa natureza.

A interpretação desse fenômeno longe de esgotar a discussão, acirra a necessidade de aprofundamento de estudos, na busca de proposições objetivas que atinjam esse universo subjetivo que se traduz em desafio constante a uma sociedade que se quer mais justa  humana.

 

Roubo em Operadores Logísticos

Os estudos em relação ao crime organizado, demonstram claramente que criminosos profissionais em roubo de carga e bancos, migrão fácilmente devido às ações preventivas, oriundas das forças públicas e privadas que continuamente constroem estratégias de ação no combate à essas investidas, com isso a quantidade de roubos e desvios de cargas internos em operadores logísticos, vem crescendo assustadoramente no estado de São Paulo, por concentrar a maioria dos negócios neste seguimento.

O entendimento desse fenômeno, remete por um lado, a um tipo de adequacão a que as quadrilhas que se dedicam a acões desse tipo vem promovendo em face das dificuldades de atuar em ambitos que, saturados de ocorrências, disponibilizaram uma logística de acão que inibe as investidas por elas efetuadas, e, por outro, a fragilidade da seguranca pública que não garante intervencões seguras nas vias de acesso por onde o fluxo dessas cargas circulam, quanto mais internamente, o que por isso mesmo, tem sido uma fatia de mercado para o crime organizado com vantagens consideráveis.

Desse modo, o roubo em operadores logísticos corresponde ao tipo de ação em que, um grupo fortemente armado e organizado, subtrai de grandes armazéns, mercadorias das mais diversas com o intuito de obter grandes parcelas de lucro, uma vez que, existe demanda para a destinação das mesmas.

 

Mas como surge o interesse nesses armazéns e por que são tão visados na atualidade, representando um dos sinistros em constante ascensão?

São visados por armazenar produtos de grande escala, alto valor agregado e de fácil colocação no mercado paralelo, fatores que, aliados à baixa intervenção de gerenciamento de risco se tornam promissores para a ação desses grupos organizados.

O alvo favorito dos ladrões são mercadorias com elevado valor agregado e de fácil distribuição, como os eletrônicos, compreendidos por aparelhos de som, televisores, computadores, notebooks, celulares, tablets e produtos de informática. Essas mercadorias despertam grande interesse de consumidores no mercado paralelo e este interesse aumenta caso possam ser vendidas abaixo de seu preço normal no comércio informal e aos receptadores de mercadorias roubadas, que muitas vezes são empresas legalmente constituídas para acobertar a criminalidade (Rocha, 2013).

De olho nessa demanda, as empresas de logística para a seguranca privada, tem buscado empreender esforcos no sentido de construir planos estratégicos para esse segmento, e desse modo, a experiência cotidiana de meu trabalho, tem mostrado o surgimento de um oceano azul no mercado já disponível de logística empresarial e, construir com as equipes envolvidas, novas estratégias em gestão de riscos que, com uma leitura possível dos caminhos percorridos pelos membros envolvidos nessas ocorrências internas, estabelecer estratégias para atingir esse novo público envolvido com o crime organizado.

Um exemplo desse esforco, tem sido nossa discussão com as esquipes para entender como agem esses sujeitos na consecucão de seus objetivos, para por meio do entendimento de como pensam e planejam suas acões, possamos intervir nos pontos fracos de sua organizacão. Sabemos, por exemplo, que muitas vezes, essas facções possuem informantes internos as empresas, o que nos indica um ponto de partida possível, para atingir as fragilidades dessas operacões.

Além dos procedimentos regulares de consulta e cadastro de motorista e veículo rastreado via satélite, dependendo do valor transportado, as seguradoras também exigem escolta armada, moto-acompanhamento, rastreadores móveis (iscas de carga) e até o acompanhamento de helicóptero. Acaba de chegar ao mercado os serviços de caminhões blindados para o transporte de mercadorias muito visadas, como notebooks e celulares (Rocha, 2013).

 

Conforme já constatado, esse tipo de sinistro tem crescido de maneira assustadora no Estado de São Paulo e assim, a proposta aqui apresentada é a de, por meio da leitura de excertos de ocorrências que circulam na midia, descrever e compreender a relevância de estudos que contribuam não só para seu entendimento, mas para a construcão de indicadores que favoreçam o planejamento estratégico que venha dirimir tal desafio enfretado em nosso cotidiano profissional. Para ilustrar a discussão aqui empreendida, apresentamos excertos de duas ocorrências encontradas via internet para permitir o entendimento dos argumentos propostos.

 
Ocorrencia 1. Grupo em comboio rouba carga de tablets em Campinas, em São Paulo - Dez caminhões e oito veículos invadiram na madrugada deste domingo um condomínio empresarial

Criminosos em um comboio com dez caminhões e oito veículos invadiram na madrugada deste domingo um condomínio empresarial em Campinas, no interior de São Paulo, para roubar uma carga de tablets e smartphones.

As informações da polícia são de que o grupo era formado por pelo menos 30 assaltantes que estavam fortemente armados, com fuzis e pistolas, e encapuzados. Era por volta da meia-noite quando eles invadiram o Centro Logístico Brasil (CLB), que fica no distrito de Nova Aparecida, no entroncamento das rodovias D. Pedro I e Anhanguera.

O alvo do comboio era uma carga de produtos de alta tecnologia armazenada no centro logístico da multinacional espanhola Celistics, especializada em operações de logística e transporte de smartphones e tablets no Brasil.

A Polícia Militar informou que o grupo pode ter entrado no condomínio empresarial rendendo um vigia antes do serviço. Os demais vigias foram mantidos reféns dentro da área do CLB. A ação teria durado três horas. Ninguém ficou ferido. Não foi divulgado o volume e o valor de carga roubados.

O entendimento sobre tal ocorrência traz alguns indicadores que permitem a  análise do planejamento de acão do grupo que empreendeu o roubo e se tornam, então, elementos que nos ajudam a pensar quais são as preocupacões, os pontos fortes e as fragilidades envolvidas no ilicito.

Pelo que parece, a primeira preocupacão do grupo era neutralizar a seguranca patrimonial existente e para isso, foi realizado o sequestro de um dos vigias, antes mesmo de chegar ao trabalho que, sob pressão atuou conforme solicitado pelo grupo criminoso. De posse de armamento pesado e informacões privilegiadas, o grupo de aproxidamente trinta homens, se sentiu seguro para atuar por cerca de três horas dentro da empresa, porque além de saber que não seriam interrompidos na sua acão devido ao constrangimento causado ao pessoal da seguranca, estavam em local que facilitaria sua rota de fuga.

De acordo com a consultoria em gestão de riscos Projeto Innovatio, os fornecedores de serviços de prevenção de perdas no transporte de carga estão com ferramentas e serviços defasados, com pouca efetividade e altos custos. Para as empresas terem resultados eficientes, é preciso uma equipe própria especializada em prevenção de perdas, e a seleção de transportadores e operadores logísticos com um programa de gestão de riscos bem estruturado é essencial. Na contratação de serviços, o preço do frete não deve ser o único item de peso a ser avaliado (Rocha, 2013).

 

Portanto, de posse das fragilidades enfrentadas pelas empresas, entram no planejamento das equipes do crime organizado, fatores facilitadores como: efetivo de seguranca patrimonial interna (que garante o acesso), estrutura de CFTV, alarmes e controle de acesso (para garantir permanência com riscos minimos), estrutura fisica (ambientes blindados e ofendículos), vias de acesso (rodovias, estradas que facilitam a fuga), dias e horários favoráveis (que facilitam a acão) e atores envolvidos na gestão da operacão (pessoas que possam facilitar o sinistro).

Após a avaliação dessas variáveis, o grupos organizados sentem-se seguros em operar nos armazéns, porque preveem antecipadamente seus riscos potenciais e desse modo, tem alcançado sucesso em suas operações em detrimento das empresas que ainda evidenciam imaturidade para lidar com a questão.

Ocorrencia 2. Grupo que assaltou Eurofarma levou imagens de câmeras de segurança – publicidade colaboração para a folha

O grupo que assaltou o complexo do laboratório Eurofarma, em Itapevi (na Grande SP), levou os computadores com as imagens das câmeras do circuito interno de segurança. O assalto ocorreu no fim da noite de segunda-feira (21). Os suspeitos chegaram ao local em quatro caminhões e dois carros. Eles fugiram cerca de quatro horas depois nos veículos carregados com medicamentos. Ninguém foi preso.

Grupo invade laboratório e rouba caminhões com remédios em SP

Segundo investigadores da Delegacia de Itapevi, o grupo rendeu os vigias e entrou na sala onde é feito o monitoramento de câmeras. Os suspeitos interromperam as filmagens e roubaram as gravações. A polícia apura se há uma cópia de segurança das imagens e procura vídeos de estabelecimentos vizinhos.

De acordo com a Polícia Militar, a ação foi praticada por cerca de 30 bandidos armados, que invadiram o local por volta das 23h. Os primeiros suspeitos conseguiram entrar no local após se identificarem como policiais civis. Eles disseram que precisavam entrar na empresa para investigar um possível roubo de cargas.

Em nota, a Eurofarma confirmou a ocorrência e disse que ninguém ficou ferido. A empresa afirmou que está fazendo um levantamento sobre o que foi roubado para apresentar à polícia.

Os indicadores da ocorrência dois, possui similaridades com a descrita na ocorrência um, veja: as preocupacões com entrada, permanência e saída do grupo parece ter contado com a informacão privilegiada de que o recurso de filmagem CFTV, não estava em ambiente seguro (área blindada), o que facilitou a acão dos criminosos. Além disso, porque não se questiona o fato dos vigilantes permitirem uma entrada na empresa nesse horário, sem confirmacão de superior hierárquico. De resto, demonstram as mesmas preocupacões com o acesso (disfarce de policial civil), dia e horário (assalto feito a noite), permanência de quatro horas no local e facilidade de fuga.

Os indicadores aqui apresentados, reforçam a tese de que as empresas não estão devidamente preparadas para lidar com esse novo desafio e quem lida com segurança patrimonial, tem buscado insights que nos levem a vislumbar um oceano azul que permita coibir ações planejadas e infelizmente bem sucedidas na maioria das vezes.

O armazém (operadores logísticos) surge no mercado empresarial para concentração e distribuição em grande escala, visando sintetizar ações de armazenamento e distribuição de mercadorias de modo a favorecer o fluxo e atender a demanda com rapidez e objetividade, no entanto, no caminho dessa logística, os grupos criminosos também encontraram janelas de oportunidade para transformar o planejamento das empresas a favor de seus objetivos escusos.

 

Considerações Finais

O cenário atual de insegurança presente nas principais cidades brasileiras, apontam o desequilíbrio econômico que afeta as classes sociais, causado pela má distribuição de renda, políticas assistencialistas e carências oriundas da falta de politicas públicas que minimizem tais disparidades. Embora seja notório, a crescente verticalização social à que assistimos atualmente, sabemos que ainda estamos longe de índices satisfatórios.

Esse quadro de miséria social gerador de criminalidade parece fruto de políticas, que por um lado, não priorizam educação, saúde e condições de vida, e por outro, incitam um consumo crescente nas classes populares. Esse movimento, gera crescente e sistemático aumento dos índices de criminalidade, corrupção, violência, bem como, ausência de meios de satisfação dessas necessidades por meios legais, o que acaba impondo uma conduta ilícita.

Como fruto dessa desigualdade, identificamos um modus operandi de grupos em crescente ascensão das organizações criminosas que atuam em diversas frentes ilícitas para atingir seus objetivos, tais como: roubo de cargas em rodovias, roubo à bancos, roubo a  armazéns logísticos, sequestros e crimes cibernéticos entre outros que, configuram a saída encontrada para satisfazer as disparidades de consumo à que estão sujeitos.

Nota-se que o crime é migratório, sua ação sofre desmembramentos conforme a atuação das forças públicas e privadas promovendo novas estratégias na busca do sucesso do ato ilícito. Nossa  reflexão identifica que os criminosos estão se especializando cada vez mais para o sucesso de suas operações, visto a riqueza de detalhes contidos em seu planejamento.

A atenção dessas facções se volta para um planejamento que envolve desde  a captação da informação detalhada, a ação operacional no local, transporte, rotas de fuga e entrega ao receptador. Essa caracterização demonstra que há corrupção à nível interno e externo e aponta a necessidade urgente da adoção de medidas de proteção que permitam reduzir os riscos à que estão expostas pessoas, produtos e armazéns logísticos.

A incidência desse fenômeno, mostra que os armazéns logísticos possuem ausência de um planejamento estratégico em gestão de risco, pois, a maioria desses, ainda entende que por ter o seguro, esse tipo de ação é secundária. Porém, esta conduta acaba por incentivar  ações dessa natureza.

 

 Referências:


http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1173396-grupo-que-assaltou-eurofarma-levou-imagens-de-cameras-de-seguranca.shtml

 

http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/sp/2013-02-17/grupo-em-comboio-rouba-carga-de-tablets-em-campinas-sp.html

http://www.fazenda.gov.br/portugues/docs/perspectiva-economia-brasileira/edicoes/Economia-Brasileira-EmPerspectiva-Jan-Mar-19-04-13.pdf

http://www.seguranca.sp.gov.br/novaestatistica/Pesquisa.aspx

 

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